Pólo capitalista

Na rua...

-Nove vezes nove é...
-Oitenta e um
-Certo. Você esta ficando esperto mesmo ein filho
-Claro!
-Quero ver se sabe essa então
-Manda
-Onde mora o Papai Noel
-No Pólo Norte
-E onde fica o Pólo Norte?
-No shopping. Eu o vi na entrada...


Snow Patrol - Signal fire (Tradução)

"As palavras perfeitas nunca passaram pela minha cabeça
Porque não havia nada além de você
Eu senti cada parte de mim gritando alto
Mas o som estava preso dentro de mim

Tudo que eu queria passou rápido por mim
Mas eu estava preso bem forte à terra
Eu poderia ficar preso aqui por uns mil anos
Sem os seus braços para me puxar

Aí está você, bem na minha frente
Todo esse medo vai embora, você me deixa nu
Me abrace apertado, porque eu preciso que você me guie para a segurança

Não, eu não vou esperar para sempre

Na confusão, e nas consequências
Você é o meu sinal de fogo
A única resolução e o único prazer
É o brilho enfraquecido de perdão nos seus olhos

Aí está você, bem na minha frente
Todo esse medo vai embora, você me deixa nu
Me abrace apertado, porque eu preciso que você me guie para a segurança

Não, eu não vou esperar para sempre"

Pedido de natal e ano novo

Quero ter um pedido diferente para fazer no ano que vem.
Só isso.
Não quero ser rico, não quero ganhar na megasena, não preciso conseguir juntar dinheiro para comprar uma moto ou mesmo desejo viver até os 80 anos. Não necessito que o meu intercâmbio dê certo e abro mão até de conhecer o mundo pela ausência do pedido dos últimos três anos no ano que vem.
Acho que já deu pra sacar a resposta.
Só quero chegar ao final do próximo ano com um pedido diferente.
Desculpe, mas uma vez pela intromissão, é só...
Por favor... por favor... Isso não é mais um pedido... É quase um sinal de fogo de esperança...
Da pra ser?

Passando o tempo

No predio...

-Cara acabei de presenciar algo incrivel...
-O que?
-Estava olhando a câmera de vigilância interna do prédio e...
-E o que?
-E vi o elevador abrir a porta duas vezes sem ninguém e a luz piscar três vezes
-Nossa
-É... Isso só pode significar uma coisa...
-Espíritos a solta, um ataque alienígena, Bactérias mortais?!
-Não. Que sou MUITO desocupado

Na madruga

Em casa...

-Alô
-Alô
-Quem é?
-Sou eu
-Você sabe que horas são?
-Acho que três
-O que você esta fazendo acordado?
-Não consigo dormir...
-Pra variar né?
-Foi mal. É que não tenho nada pra fazer
-É dia 27 de dezembro, quer uma ideia?
-Sim
-Pegue o resto do seu peru, vá comer uma rabanada e me deixe dormir...

tu tu tu tu

O camponês



O camponês se sentou na escada que precedia a entrada da casa e olhou para a plantação destruída pelas recentes chuvas.
No final das contas aquele não tinha sido um ano de tanta má sorte. As colheitas em geral tinham sido boas e o preço do trigo, produto que era plantado em pequena escala na fazenda, tinha dado retorno suficiente para que ele conseguisse se manter.
O ano tinha sido tranquilo, mas a imagem da plantação perdida deixava um vazio no coração do fazendeiro. O camponês amou pouquíssimas coisas ao longo de sua vida além de família, musica e livros...
Gostava de verificar cada lado da pequena plantação que garantia o seu sustento ao longo do ano. Uma sustentação que mantinha muito mais que as finanças, era a alma e o coração de um matuto que estava em jogo.
Quando ia para a cidade via as grandes plantações de café, vizinhas a sua, lotadas de maquinas que cuidavam de uma área dez vezes maior que a sua num tempo menor do que ele mesmo levava para verificar a própria.
Era o que o irmão do camponês, que estudava numa boa faculdade em outra cidade, chamava de “mal inevitável do capital”.
Estudos e palavras complicadas a parte o camponês resolveu distrair a cabeça e dar uma passada pela tradicional festa na praça da cidade. Colocou sua melhor calça, uma bela camisa xadrez e saiu com a velha caminhonete.
O lugar se encontrava consideravelmente cheio e logo que estacionou pegou uma cerveja numa das barracas e pôs-se a andar pela praça dando pequenas goladas na lata de tempo em tempo.
Passou pela extensa fila da roda gigante, viu as crianças tentando a todo custo acertar uma pilha de garrafas para garantir um brinde numa barraca e parou em frente ao concurso de quem come mais milhos que logo ia começar.
Tomou mais um gole da cerveja e viu que uma garota trajando um vestido de bolinhas tinha parado ao seu lado.

-Eu adoro milho... (disse ela)
-Confesso que não sou um grande fã
-Não sabe o que esta perdendo. É muito bom.
-Por que você não esta participando então?
-Apesar de você não achar eu sou menina né...

Risos

-Eu... Eu não disse nada
-Estou brincando...
-Bom eu votaria em você para o de garota primavera que acontecera daqui a pouco.
-Sério?
-Uhun
-Então vou concorrer...

O concurso do milho começa e todos se viram para prestar atenção. Nada de novo e como já era esperado o gordo barbudo, que estava sentado na extrema direita, ganha com alguma facilidade.
O Camponês olha para o lado e a menina de vestido de bolinhas tinha sumido.
Ele compra mais uma cerveja e se põe a andar um pouco mais até que percebe um alvoroço ao redor da passarela do concurso de garota primavera.
Para ao lado de um senhor e observa as garotas entrando uma a uma na passarela até que a menina de vestido de bolinhas entra

...

O camponês quase deixa a cerveja cair e fica com os olhos fixados no sorriso e no balançar dos cachos que desfilavam pela pequena passarela que parecia totalmente proporcional a estatura da garota.
Cada passo parecia tão lento quanto as palavras do velho ao lado que comentava: Que garota desengonçada....
Sem dar ouvido ao velho ranzinza o camponês votou na garota de vestido de bolinhas que acabou vencendo no final.
Fez questão de vê-la recebendo a faixa, os abraços da família e o beijo do marido antes de entrar na caminhonete para voltar à fazenda.
Sentou-se ao volante ligou o rádio e ficou pensando na plantação do ano que vem, mas acima de tudo na garota de vestido de bolinhas que tinha saído da sua cabeça, mas ficado no seu coração.
Queria muito que tivesse tido um desfecho diferente, mas não dependia dele e a lembraça seria tudo o que ia lhe restar com o tempo.



Leonardo Justi - Canhotinha dub (trechos da letra)

"...pegar na sua mão
Sentir sua pele, cheirar seu cabelo"

"...Vou embora sem matar vontade
Que aumenta e vira saudade
O sentimento que eu tenho por ela faz sofrer
Vejo ela linda na pista e até sei o que fazer
Mas eu não faço nada, meu sangue para
Tentar não custa pra você
Pra mim é os olhos da cara..."

"...É paixão, tá ligado, não há
Razão que possa explicar
Pode crer no papo a cinderela pode fácil desvirar
Tu me pergunta por que eu não vou falar com ela na verdade
Me faltam a coragem e habilidade
Só vejo ela de longe na vontade
Ela flutuando e eu sentindo a gravidade"

Alicerces

É uma grande pena, mas será que os alicerces realmente suportariam...
Uma fortaleza é feita de rochas fortes e compactas colocadas umas sobre as outras. Durante um longo período elas resistem a fortes ataques, mas você acreditaria numa definição dessas dada por mim?
Poucas pessoas acreditariam...
Talvez seja por isso que eu me contente em guardar tão pouco mesmo que o tempo assegure a relatividade de ser muito para mim.
Será que alguém lhe diria que é hora de parar?
Eu respondo a essa pergunta, sem pestanejar, e digo sim, porém a questão é: você conseguiria?
Os alicerces poderiam suportar...
Maldito seja o tempo que simplesmente não para na hora devida, malditos sejam os alicerces tão frágeis de um amor tão complexo, maldita seja a razão que impõe barreiras tão sensatas e bendito seja o alvo de tanto apresso, pois mesmo que os alicerces não suportem algo sempre vai estar de pé, estagnado e imutável passe o tempo que passar, a distancia que estiver e sofra o abalo que sofrer, mesmo que eu nunca mais venha a ti ver, o meu amor por você.
E apesar da ridícula rima existe algo que é fato: apesar de tudo acho que nunca vou poder definir um fim. Talvez um começo, mas nunca um fim.

stress

Antes de doar sangue...

-Só vou fazer algumas perguntas de rotina antes de começar
-Tudo bem
-Você usa drogas?
-Não
-É portadora de HIV ou Hepatite?
-Não
-Tem stress?
-Não
-Que pena as pedrinhas da minha calça caíram todas... Ok. Pode colocar o braço aqui para começarmos.

Carta ao amigo

Prezado senhor venho por meio desta informar que o capital acabou.
Sei que a distancia nos impede de dar detalhes sobre o atual estado do nosso povo, mas agora o fato esta consumado e posso ver isso no rosto de cada pessoa em nosso vilarejo, na risada de cada criança e nos passos vagarosos de cada idoso.
Acabo de receber a noticia e me senti na obrigação de relatar o recente acontecido para que não se surpreenda quando voltar.
Definitivamente o livre pensar e a consciência social finalmente se fizeram presentes através da forma mais simples que se poderia notar: a comunicação. Não foi um parágrafo, um texto, um livro ou mesmo uma biblioteca que foram capazes de tais feitos, mas sim a união de cada um.
Não se acredita mais em conceitos empacotados já digeridos e entregues.
Todos conseguem chegar a um raciocínio comum do que é melhor para o outro passando por cima da individualidade e tornando os conceitos publicitários inúteis.
A republica parece funcionar de forma plena permitindo que a dialética seja a nossa guia, ignorando assim o desvio para um pensamento único burro e partindo para discussões que tem em seu âmago os conceitos de coletividade, bem estar e sociedade como um todo.
A burguesia caiu há alguns dias, as escolas receberam verbas suficientes para formar cidadãos, as universidades se multiplicam por todo o país e os governos não se impõe mais, pois não há necessidade. Temos educação!
Não há senado, as leis são implícitas e todos agem buscando o bem coletivo, que não passa mais pela noção de materialidade, não há moeda vigente por que todos têm alimento gratuito nos supermercados e só se trabalha para fazer o mundo funcionar.
Todos são um e cada um age para o seu semelhante.

De: Eu
Para: Concurso de “cartas-piadas” estadunidenses da Oprah Winfrey
Prêmio: 1 Milhão

P.S. Obrigado pela oportunidade.

Na fila

O mendigo tinha parado para pensar enquanto esperava a sua sopa na fila...

Por que vivia nas ruas de forma tão simplória? Tinha consciência de que não era uma má pessoa, mas mesmo assim as coisas na sua vida não haviam dado certo.
Era um ex-empresário que foi obrigado a ver o próprio empreendimento afundar na última crise mundial. Onde estava o Deus protetor do capitalismo quando ele mais precisou, para onde foram os investidores, os consumidores, o capital?!
Sentou e lembrou das palavras de Darwin que afirmava algo óbvio, mas que o mendigo só estava compreendendo agora. Lembrava de Darwin dizendo que a luta pela existência, que os economistas celebram como sendo a maior conquista histórica do homem, constitui exatamente o estado natural do reino animal.
A cultura de massa é por si só autodestrutiva.
A valorização do consumo e da propriedade privada não nos deixa colocar o bem social em primeiro lugar. O capital é tão egocêntrico que não consegue ver os sinais de alerta, que o próprio sistema dá, como o Crack que sempre acontece na economia mundial a cada dez anos.

Faltava pouco para chegar a vez do mendingo pegar o copo de sopa quente na gelada noite...

Talvez a famigerada especialização fosse um forte fator para a desigualdade. Pensamos tanto especificamente que esquecemos de pensar globalmente.
Há tempos atrás as coisas pareciam ser um pouco mais simples, alguns dos grandes homens da humanidade não tinham uma só profissão. Da Vinci não era só um grande pintor, mas também era um grande matemático, mecânico e engenheiro.
Só uma produção consciente, em que se pense no todo, pode elevar os homens a uma ascensão sob o ponto de vista social sobre o resto do reino animal.
É o que nos diferencia... Acho que foi ai que errei...

Próximo!

-Olá senhor boa noite.
-Boa noite.
-Aqui esta a sua sopa.
-Obrigado.
-Bom Mc dia feliz para o senhor.

Ao sair da fila com a sopa o mendigo olha para cima do lugar e vê o M amarelo gigante com os dizeres: Mc dia feliz uma iniciativa do Instituto Ronald Mcdonald para ajudar os mais necessitados.

Boa noite




Sentado na sua prancha Juan olhava o mar.
De olhos fechados e de frente para o horizonte ele podia ouvir o som que o água fazia batendo contra as pedras na parte perigosa da praia onde as ondas quebravam de forma assustadora.
Julgou-se amaldiçoado e abençoado por estar num local tão bonito, mas que parecia tão melancólico.
Virou-se para a parte pedregosa, sentiu as gotas da água salgada no rosto e esfregou os olhos indo então, a largas braçadas, na direção da próxima onda.
Ela veio e ele nadou até ficar em pé.
Era o único momento em que Juan conseguia estar só com ele mesmo sem a intromissão inoportuna dos seus pensamentos. Não havia mais nada além dele e o mar, nada mais entre ele e o céu, nada mais entre ele e ele mesmo.
O grande problema era que até mesmo a onda impunha uma condição cruel a Juan logo após os seus momentos juntos: à volta a realidade quando ambos chegavam a areia.
Fincou a prancha, daquele jeito que só os experientes surfistas conseguem fazer, e se sentou ao lado da companheira para tomar uma cerveja.
Tinha o pensamento distante e a vida complicada pela própria ilusão. Jogou um vago olhar para a montanha, ao seu lado esquerdo, e viu os carros voltando para a cidade como que dizendo: Final de tarde... Hora de voltar à realidade.
Devolveu a prancha alugada ao hippie, com nome de Beatle, Harrison, tomou um banho gelado para tirar o sal do corpo e depois de terminar mais uma cerveja, colocar uma bermuda e uma camisa ligou a moto para ir embora.
Acelerou, subiu e desceu o relevo antes de cair numa pequena estradinha que levava a avenida principal.
Sentiu o cheiro de gasolina e de pneu queimado típicos dos carros, mas não se importou por que os seus pensamentos mostravam um único odor.
Guardado em sua mente deixava uma torpe alegria figurar no rosto que era seguido pela aflição e agonia que o abatiam sempre que dirigia.
Gostava da estrada por que ela lhe trazia boas lembranças que variavam entre sorrisos e as bobeiras inventadas para vê-la até a inivitavel verdade ocorrer.
Acelerou um pouco mais e foi cortando os carros até chegar em casa numa cidade do subúrbio para mais uma noite. Mais uma noite com um computador e livros do amigo de Marx: Friedrich Engels...

Contagem

No cabo de guerra...

-Ok. Todo mundo concentrado...
-Sim!
-Quando eu contar até três nós puxamos.
-Sim senhor!
-Essa é a final. Não vamos dar mole.
-Sim senhor!

Os comandados esperavam o inicio da contagem quando o capitão disse:

-Três!

Três segundos depois todos estavam no chão...

Não presença

Era uma dia comum como qualquer outro. Não era feriado e nenhuma data importante estava próxima.
A noite se anunciava e eu andava com aquele que viria a ser um dos meus melhores amigos quando a vi sentada no banco.
Começou a falar com meu companheiro sobre a prova recém feita.
Não sou tão pretencioso a ponto de dizer quanto ao mundo, mas com certeza absolutamente ninguém naquele corredor estava mais dislumbrado do que eu.
Vivo num lugar onde uma das sete maravilhas do mundo moderno se faz presente, mas admito que comparar com ela era algo desleal.
Desleal em todos os sentidos, pois o que mais poderia ser tão natural?
Só quem um dia a viu subir ou descer uma escada com o seu vestido a sorrir sabe do que eu estou falando.
Ela se caracteriza em cada gesto meio desengonçado, leitura de livro ou risada meio estranha que dá.
Gosto quando ela mexe no cabelo bagunçando-o e, mostrando que tem total controle, cinco segundos depois o coloca no mesmo lugar de antes com um simples balançar de cabeça.
Me divirto quando ela senta e tem uns tremiliques devido ao frio ou a outra situação externa.
Adoro quando ela mexe na orelha alheia só para perturbar e morro de rir quando ela tropeça e solta um "ai" me presenteando logo depois com um sorriso.
Hoje tenho que aprender a viver com a sua ausência, ou melhor, ausência não, pois de algum jeito tenho guardado o seu cheiro e o seu sorriso comigo... Hoje sou obrigado a aceitar a sua não presença...

Brincadeiras do capital

No RH de uma empresa...

-Olá
-Olá Doutor Hugo como vai?
-Bem obrigado. Você pode demitir esse funcionário para mim?
-Sim Doutor Hugo
-Obrigado
-Desculpe, mas o senhor pode me dizer o motivo?
-Estou relembrando os tempos de criança com uma brincadeira...
-Qual?
-Estou rodando peão.

Desculpas

Na rua...

-Posso perguntar uma coisa?
-Sim
-Por que você não gosta de mim?
-Eu gosto
-Entendi, mas não o suficiente...
-...
-Ein?!
-Desculpe
-Você se desculpa demais sabia...
-Pois é. Definitivamente não sou o melhor cara. Desculpe.
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