Fim de ano




26 de dezembro, onze horas da noite em algum apartamento no Rio.
Hoje acordei esperando uma mensagem ou um telefonema que não veio, será que sou tão óbvio assim?
Essas festas de final de ano sempre me alegraram muito, mas não pelas datas e o recesso no trabalho, mais por que as pessoas ficam de algum modo diferente. Não sei explicar como, não me pergunte.
Meu quadragésimo segundo natal não foi diferente dos outros e também acho que não teria como ser. O que se faz depois da meia noite de natal?
No ano novo você sai e vai para alguma festa se divertir, mais o natal é algo tão familiar que isso, pelo menos para mim, é impensável.
Tentei fugir, do meu próprio clichê, de ficar pensando em minha empresa e em como seriam as vendas no próximo ano, de como ela ficou linda mesmo com o cabelo cortado curto e de como eu não me imagino tendo um relacionamento mais sério com outra pessoa, enfim, essas coisas meio reflexivas que, eu acho, todos fazem no final do ano.
Recentemente tive, inclusive, o diagnóstico da bipolaridade decretado por minha psicóloga. Que tipo de pessoa diz a outra perto das festas de fim de ano que ela é bipolar!? Será que não sabe que provavelmente, digo isso por experiência própria, o maior número de suicídios em todo mundo acontece nesse período.
Não tenho nada, aparentemente, que justifique o meu problema: sou um empresário de sucesso no ramo de tecidos (na verdade minha empresa vende cuecas mais eu sempre acho meio estranho dizer isso), tenho uma vida financeira estável e nunca tive problemas maiores para conseguir mulheres, o que pode ser justificado pela minha condição social e pela minha moto Harley Davidson, que sempre me deixavam, pela reação das mulheres no local, com um ar de Tom Stark (Homem de Ferro).
Como pode alguém que chega com uma Harley Davidson e é um empresário de sucesso no Brasil ser bipolar. E se ela tiver errado no diagnóstico e eu estiver à beira da loucura. Algo assim não é tão incomum na vida cotidiana de um empresário. Imagine se fosse você que cuidasse de uma das maiores empresas de tecido do país líder de exportação a mais de dois anos no segmento.
E se eu realmente estiver ficando louco, o que vai acontecer quando a minha doença me acometer de uma forma definitiva e avassaladora deixando-me sem poder dirigir tudo o que conquistei ate hoje.
Vou ligar para minha psicóloga...
--- Pego o telefone ligo, nem espero chamar e desligo de novo---
Não posso fazer isso, aí mesmo é que ela vai achar que sou louco: ligando pra minha psicóloga num dia 26 de dezembro quase meia noite.
E se tudo isso for uma conspiração dela para tomar minha empresa, isso mesmo você nunca achou que eu fosse descobrir né?
Aha
Olha como eu sou “bunitinha” com o meu divã ajudando um pobre empresário louco...
Ela deve estar me confundindo desde o inicio, me induzindo aos poucos a esse estado de suposições absurdas que estou fazendo. Absurdas mais que fazem todo o sentido, que maneira melhor de tomar uma grande empresa de que o diagnóstico: O dono esta louco, doido de pedra?!
Amanhã mesmo eu vou parar de me consultar com ela.
A não ser que ela tenha me induzido a que eu pensasse que sou louco para que agisse como tal provando assim o meu estado pela minha não ida às consultas, já que, eu fazia o “pacote semestral”, deixando pago tudo desde o inicio há um ano e meio.
E se eu morrer, pelo menos os meu bens poderiam ser doados a pessoas que precisam, como coloquei em meu testamento, e não cair nas mãos de uma psicóloga louca (ela sim é) que quer me deixar também, com um plano mirabolante.
Matarei-me agora a meia noite do dia seguinte ao natal, assim fujo das suas garras e dessas malditas festas que eu gostava tanto, pelo menos de acordo com o inicio desse texto...

Cartolas



Hoje eu saí na rua e notei algo estranho, todas as pessoas simplesmente usavam cartolas, inclusive eu.
Elas eram mágicas, segundo a minha memória, e eram capazes de feitos espetaculares. Presenciei os mais diversos tipos de bizarrices em meu passeio. Um homem tentou fazer um ônibus, que tinha passado do ponto parar, mas a sua mágica foi anulado por uma mulher que estava no mesmo ônibus atrasada para o trabalho. No final das contas os dois desapareceram.
Uma senhora tentou se tele transportar para entrar no banco, sem ter que se desfazer do seu guarda-chuva, que ficaria preso no detector de metais, foi impedida pelo segurança que também utilizou a sua cartola. Ambos desapareceram e o banco é assaltado desde então, pois não se tem mais o guarda.
As pessoas iam desaparecendo uma a uma e eu resolvi perguntar a alguém como funcionava aquela coisa toda. Um jovem com uniforme escolar me disse que a cartola realizava qualquer desejo meu, só não influía no sentimento alheio.
Mais que m...
Esse não é um sonho meu? Como não posso ficar com a mulher que eu amo!?!
Nem aqui...
O jovem me respondeu: Como você sabe que é um sonho seu, e se for o meu sonho ou o de qualquer outra pessoa aqui?
É verdade, como eu sei?
Bom, na verdade eu não sei. Só queria que ao menos uma vez na vida eu pudesse beijá-la e dizer o quanto a amo tendo a mesma resposta.
Mais você também não esta ajudando, nunca viu chaves?
Só um idiota responde uma pergunta com outra pergunta!
O Jovem: Vamos parar com esses clichês, por favor. Esse negócio de amor é uma utopia até aqui no sonho, de quem quer que nós estejamos.
Fui embora...
Recuso-me a discutir isso com um adolescente.
Quem era ele para me dizer como usar a minha cartola. O sonho bem provavelmente nem era dele, e se fosse também não me surpreenderia, só ele para inventar algo tão falho...
E eu que tenho uma cartola mágica em minhas mãos e entro em contradição comigo mesmo, como no parágrafo anterior.
Aff
Tenho que pensar em algo que eu queira mais que não seja tão óbvio, só assim ninguém irá anular meu pedido e eu irei realizá-lo.
Uhn...
Isso é muito difícil, vou voltar para casa e dormir, de que me serve uma cartola mágica se todos meus desejos são anuláveis, e a máxima de o meu direito termina quando o seu começa continua aqui.
Se esse sonho for seu tenha um melhor na próxima, por favor. Não seja egoísta.
Por que o meu, com certeza não é.

Tecendo












Essa é a musica mais sincera que já fiz na minha vida:

Misst

Meu amor ela é tão linda
Presente dos céus que caiu em minha vida
Pele lisa e macia
A pessoa mais linda que eu já vi

Pode chover quem sabe até relampejar
Mas você nada tem a temer, pois sempre estarei com você
Guerras pra depois batalhas já não me interessam
Por que só sua presença me deixa em paz

Se você quiser ouvir é só entrar em www.tramavirtual.com.br/oliveira e clicar no link misst.

Inverdades



Durante muito tempo me disseram que se eu realmente quisesse ficar rico teria que montar o meu próprio negócio. Ninguém, eu disse ninguém, realmente ganha dinheiro sendo empregado.
Pensei muito para escolher um bom nicho, do concorrido mercado de trabalho, em que pudesse atuar. Decidi ser um vendedor e montar minha pequena empresa de mentiras. Aliás, mentiras não, o nome certo são inverdades. Esteticamente é uma palavra muito mais bonita e guarda o seu verdadeiro significado num singelo e pequeno prefixo.
A inverdade é uma técnica que poucos dominam com destreza, eu particularmente tinha alguma habilidade, e por isso vou contar aqui como a minha empresa foi ganhando, pouco a pouco, o seu espaço até ser uma das maiores do mundo.
No inicio eu tinha o hábito de, frequentemente, entrar em salas de bate-papo na internet para treinar minha habilidade. Começava com um nome feminino, que tem uma adesão maior ainda se for diminuído para um apelido como Dani, Bia ou Lu, e com uma cor forte como o preto. A abordagem era sempre melhor compreendida, e aceita com muito mais facilidade. A pessoa que se embrenha pelo estranho mundo dos chats na internet é sempre alguém que tem algum tipo de necessidade para ser atendida, e se você souber levar bem a conversa ela sempre acaba contando o ponto fraco.
A Inverdades cresceu muito pela sua alta popularidade na internet principalmente. Nossos clientes sempre souberam de nossa política de discrição e sempre tinham na nossa empresa total confiança (que contradição), pois se a mentira tem perna curta, a inverdades usa pernas de pau.
Esse é o trabalho cauteloso que, as vezes, tem um preço alto (mais também que se dane, estamos num mundo capitalista ora bolas). Quem você acha que deu suporte para os cidadãos americanos pedirem empréstimos, e para as financiadoras autorizarem todos causando uma das maiores crises econômicas que o mundo já viu?
A única empresa que cresceu vertiginosamente nos últimos meses foi a Inverdades, e isso não foi por acaso.
Vivemos num mundo de inverdades, seja ela cometida por um político, que não recebeu a nossa consultoria (lógico), ou por um filme de super-herói onde até ele, que é o salvador do dia, tem que esconder a sua verdadeira identidade.
Aliás, como você sabe se tudo o que eu escrevi até agora é verdade ou inverdade, como você sabe se tudo isso aqui não é uma dissidência do mundo real e estamos na Matrix?
Como você sabe se toda essa baboseira não é só mais uma postagem louca de alguém que não tem mais o que fazer?
E afinal de contas quem nunca contou uma inverdadezinha?
Ein...

PS: Essa ultima pergunta é ótima, vou usá-la como argumento de defesa no próximo processo contra a minha empresa.

Bom, é uma longa história...



- Bom dia meu jovem
- Bom dia
- Você pode me avisar quando o ônibus vermelho indo pro Centro passar?
- Infelizmente não.
- Por quê?
- Eu tenho um problema com cores.
- Como assim?
- Bom, é uma longa história...

Durante toda minha vida tive problemas com elas.
Com quem? Aff, com as malditas cores.
Elas me limitavam!
Lá estavam elas me importunando nos tempos de colégio com aquelas variedades e suas nomenclaturas na tabela periódica. Tinha que sentar com a professora do lado para poder fazer a prova. “Sente do meu lado Jake” era o que ela dizia, com os seus brincos de argola cintilantes. Mais que droga, eu nunca colei por causas delas, eu sentava do lado da professora e dava cobertura aos meus colegas, pois entre uma pergunta de “que cor é essa” e outra, eles aproveitavam para trocar informações.
E quando descobriram minha dificuldade... foi um alvoroço, pois o que mais se via eram olhos nervosos procurando algo de cor viva para fazer a derradeira pergunta: Que cor é aquela Jake?
Jake?!
Jake?!
Jake?!
Quando fui fazer o teste prático para tirar minha carteira de motorista, lá pelos meus 19 anos, não tive maiores problemas por ter uma carta na manga, ou melhor, numa sacola... Eu levei mangas (isso mesmo a fruta) pintadas numa sacola com as cores do sinal. O instrutor claro me questionou sobre as frutas e eu não hesitei em dizer: Trabalho escolar do meu filho. (terminando a frase com um largo sorriso amarelo, se é que eu saberia distinguir um)
Até nas minhas navegadas pela internet às malditas me incomodavam, afinal de contas, as drogas das cores só me permitiam enxergar as letras vermelhas num fundo preto, do site de minha banda preferida, com um esforço descomunal de minha parte. Isso com o tempo me levou, finalmente, a um oftalmologista que foi taxativo em seu diagnóstico: Daltonismo.
Ahhhh, então isso tem um nome?
Agora eu finalmente teria um nome para falar mal. Não do pobre Dalton, claro, que deve ter sido o descobridor da doença, pelo nome dela eu acho, e enchido as burras de dinheiro com isso, mais por ela em si e os problemas que me causou ao longo de minha vida.
Por favor, eu nem conseguiria distinguir as cores do arco Iris, eu comprava freqüentemente minha escova de dente rosa, confundindo com o azul, e não podia dar um singelo vestido a minha namorada sem perguntar à vendedora a cor dele.

Depois de descer do ônibus no trabalho...
- Jake.
- Opa, diz ae.
- Passe-me essa pasta verde que esta nessa pilha ao seu lado, por favor.
- Qual delas?
- A verde.
- Você tem que ser mais especifico.
- Você é cego?
- Não sou Daltonico.
- O que é isso?
- Bom, é uma longa história...
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