Duas cordas

Em casa...

-Mãe onde esta?
-Não sei onde a empregada colocou
-Assim não dá, todo dia ela muda de lugar
-Toca aquele outro ali
-Mãe aquilo é um baixo, eu quero minha guitarra
-É a mesma coisa filho só tem duas cordas a menos!
-¬¬

Degraus

E mais uma vez estava entregue nas mesmas escadas que no ano anterior o abrigaram em noites tão deprimentes quanto aquela.
Não era comum ver o lugar tão cheio, porém também não era ver ele muito vazio.
A espécie de azulejo parecia meio psicodélica naquela altura da madrugada e principalmente no nível de entorpecência que o atingia.
Os amigos mudaram um pouco desde a última vez que tinha aparecido ali, mas os estereótipos continuavam iguais: Rastafáris, mendigos, favelados e principalmente malucos. O último não tendo nenhuma característica destacável, pois eram diferentes em todos os sentidos, da aparência ao salário que recebiam, ou não, no final do mês.
O único motivo que unia aquelas pessoas naquela série de degraus era que procuravam uma solução rápida para a inquietação que os afligia, algo que os fizesse parar de pensar ou simplesmente mudar o foco e por isso cada um tinha uma história na ponta da língua pronta para ser contada.
Histórias que passavam por fatos como ser agredido por um familiar, um trabalho que não satisfaz, o preconceito da sociedade, ser esnobado pelo amor da vida ou o simples vício.
O homem que distribuía as distrações já tinha mudado algumas vezes e agora estava cada vez mais difícil e caro obter a solução instantânea.
Agradeceu por seu salário ter aumentado proporcionalmente ao valor da distração e comprou ainda alguns para os membros da escadaria fazendo logo amigos de história que lhe mostraram como usufruir das novidades recentes obtendo o máximo delas.
Lembrou-se do dia em que simplesmente saiu pelas ruas quebrando alguns retrovisores de carro e quase foi preso, de quando transou com a garota no ônibus por pura vontade de revanche e de todas as loucuras que tinha feito... Riu e lembrou de como aqueles tinham sido tempos difíceis.
Dificuldades sempre existem, mas algumas realmente parecem maiores que outras e geram conseqüências maiores do que se pode imaginar.
Sempre pense antes de dizer ou agir, nunca demais ou de menos, por que isso pode influenciar a vida inteira de outra pessoa... Como a de cada um que freqüenta aqueles degraus.
Agora o dia já esta chegando e tenho que trabalhar...



Vídeo de divulgação do Matutando com trilha da música Pena da banda O Teatro Mágico.

A parte certa do que não se deve fazer














Num reduto da Boêmia carioca Raoni senta num bar com alguns amigos e pede uma quantidade de cerveja que é servida no local dentro de torres.
Não era exatamente uma torre, se parecia mais com um grande filtro de cerveja onde cada integrante da mesa girava e se servia da quantidade desejada.
Depois de algumas risadas e algumas ligações frustradas senta-se na mesa ao lado um grupo de quatro mulheres e pedem o mesmo que os rapazes que logo se interessam e pedem a Raoni que vá lá promover a interação entre os dois grupos.

-Vai lá cara
-Não sei, acho que estou meio enferrujado
-Como assim enferrujado?
-Estava com uma garota até... Sei lá, até as ligações que fiz ou não...
-Estava nada. Vai lá logo...

Fez uma piadinha sobre o modo certo de se colocar a cerveja sem que ela fizesse espuma e puxou assunto de uma forma clássica que ele gostava de fazer até que se sentou e pediu para que todos se juntassem.
O pedido foi atendido com receio, mas aceito pela boa conversa que Raoni tinha e divertiu a mesa visitante.
Depois de mais três horas duas das mulheres se mostravam tão interessadas que Raoni e um dos amigos saíram com ambas de carro em direção a um dos lugares mais bonitos da cidade, principalmente à noite, pois não teriam o sol sobre suas cabeças e sim a madrugada, a areia, o mar e algumas cervejas.

No lugar...

-Vocês moram aqui meninas?
-Sim, mais um pouco mais pra dentro e vocês.
-Não, não moramos exatamente aqui...
-Ahh entendemos, deve ser no próximo bairro né?
-Um pouco mais longe, mas esquece...

Dividiram-se em duplas, na famosa pedra que dava vista para boa parte da orla que vislumbravam, quando a mulher chegou perto de Raoni e disse que ia falar algo que ela não sabia por que, mas ia dizer para ele:

-Fale
-Estou aqui com você pensando em outra pessoa
- (Ele riu) Tem razão é estranho!
-Desculpe
-Não tem importância e acredite eu só penso em outra pessoa nessa noite também e não fiquei com mais ninguém desde que a conheci...
-Como ela é?
-Só saiba que ela é exatamente tudo o que eu queria agora na minha vida...
-Então vai atrás dela.
-Ela me disse que esta com alguém e que não vai ficar comigo.

Os dois contaram as suas respectivas histórias um para o outro e se deitaram até que o outro casal voltou e foram embora.
No carro rindo juntos o amigo de Raoni perguntou uma hora se ele tinha feito as mesmas coisas que ele na pedra:

-Acho que você foi bem mais ousado cara
-E desde quando você é conservador
-Eu acho que não sou, mas enfim foi uma noite longa
-A minha foi bem rapidinha por que passava gente algumas vezes

Os dois riram...

Era provável que a noite do amigo tivesse sido melhor (mais rápida... rs) e que a noite dos amigos que ficaram no bar também, mas nenhum deles conheceu a garota que morava perto do mar e era tão diferente em seu estilo de vida rico quanto era parecida com Raoni por estar com a cabeça em outra pessoa naquele exato momento.
Ficou melhor por não ser o único maluco a pensar assim no mundo... Um pouco melhor...

Eu não sou o único que gosta de alguém e...
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