Capitalizando felicidade

Quantos salários são necessários para calar a sua opinião?
As regras da nossa sociedade são claras e não dão margem para qualquer tipo de dubiedade. Nada funciona ou evolui sem capital suficiente para ser reinvestido em um determinado empreendimento.
Investir é a palavra da vez.
Temos que guardar dinheiro, economizar e capitalizar para comprar algo que almejamos muito, mas até que ponto conseguimos definir que um produto nos é mais essencial do que outro?
O que realmente é importante para você?
O importante é se divertir...

Certo?

Se divertir com os bordões do zorra total. Repetimos até ficarmos entediados e passarmos para o próximo.
É a instantaneidade de uma sociedade que tem pressa (Time is money) de trabalhar, ganhar, acumular e gastar.
Os fast foods são rápidos. Os carros são rápidos... E a sua vida é rápida, ou você acha que o cigarro levará alguém até os 80 anos?
Não há como sobreviver no deserto do capital sem uma boa arma de destruição em massa. Se você não pode com eles junte-se a eles e ganhe pela imposição: Eu sou mais forte do que você então terá que ceder aos meus caprichos.
É basicamente o que os nossos amigos USA fazem.
Não se constrói sucesso na sociedade capitalista sem lucro e não se constrói lucro sem trabalho.
Sim, o trabalho dignifica o homem... Então logo podemos entender que o lucro traz dignidade. O capital traz felicidade e felicidade chama felicidade.

Sacou?

Por que eu capitalista iria ficar triste por uma guerra que me da lucro? Há oportunidade na devastação e ninguém pode culpar o capitalista por tentar ser feliz.
Ora bolas, esse não é o objetivo do ser humano.
Alegria, alegria e alegria...

Espetado

No shopping...

-Que estranho
-O que?
-Tem algo diferente na sua lingua...
-É o meu piercing
-Você tem um piercing?
-Sim, por que?
-Nada. É que acho espantoso alguém com uma agulha espetada na língua...
- ¬¬

Aquele cheddar nunca mais foi o mesmo

Não lembro como tudo começou, mas me recordo bem de uma coisa: eu não era um garoto de muitos talentos até o Frog’s abrir.
Era definitivamente a melhor lanchonete da cidade com o seu interior todo pintado com cores vibrantes, cardápios e letreiros dignos de um grande designer.
Tudo parecia ser esteticamente, e milimetricamente, feito para atrair os jovens.
Além das mesas e do hambúrguer de cheddar extra a parte mais disputada do frog’s era a mesa de totó.
Não quero me gabar, mas era a minha especialidade.
Sai do completo anonimato para o estrelato com a chegada do frog’s e da mesa de totó que me tornou o rei do local. Tinha uma invencibilidade que já durava tanto tempo que o dono do Frog’s tinha prometido a mais de uma semana...

Eu disse mais de uma semana!

Que quem me vencesse ganharia um cheddar extra, a especialidade da casa, como prêmio. Desafiantes saiam dos quatro cantos da cidade em busca daquele hambúrguer gratuito e da minha cabeça, mas sempre caiam perante os rápidos movimentos do meu pulso.

Eu tinha nascido para aquilo

Renata a garçonete mais linda do frog’s frequentemente me levava um refrigerante grátis depois de algumas vitórias e me dava uma piscadela. Logo depois ela virava e os desafiantes e amigos me olhavam como quem olha um ídolo que tem tudo o que quer na vida.
O Frog’s era a minha arena e eu era o melhor gladiador que aquela mulher de avental já vira em toda a vida.

Era tudo perfeito até ele aparecer

Chegou desengonçado. Era gordo e tinha dobras evidentes nos lados do corpo. Dizia que vinha da parte norte da cidade, que seu nome era João e que estava ali para comer um cheddar extra de graça.
Todos riram até que o balofo me desafiou pegando uma das bolas no canto da mesa de totó e me chamou.
Eu ri... Disse que ele deveria emagrecer para que os seus pulsos gigantes coubessem entre cada barra de ferro que fazia os jogadores rodarem:

-Você nem consegue jogar gorducho
-Então me enfrente e prove
-Tenho pena de você
-Tenho mais força num braço do que você em todo o seu corpo!

Aquilo foi à gota d’água. Nenhum balofo ia me insultar dentro da minha arena, em frente a minha garota, ao meu público!

Se prepare balofo!

Posicionei-me, joguei a bola para o alto e deixei o jogo correr.
O gorducho era extremamente ágil na mudança entre as barras. Tinha um jeito diferente de deslizar as mãos que fazia os seus jogadores passarem de uma extremidade a outra da mesa num piscar de olhos.
Todos olhavam estarrecidos com a destreza do monte de gordura a minha frente. Eu suava e me contorcia todo como jamais fiz antes enquanto ele, com seu enorme corpo, só movia os braços de um canto a outro da mesa.
Eu perdi. Um minuto depois eu estava derrotado.
Minha garota, meus fãs, meu reino... Tudo colocado abaixo por um balofo.
Renata agora só trazia refrigerantes para o gordo e parou de piscar para mim.
Depois daquele interminável minuto sempre que voltei ao frog’s vi os desafiantes melhorarem e até o balofo também ser derrotado.
Desde aquele dia o sabor do hambúrguer de cheddar do frog’s nunca mais foi o mesmo para mim.
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