O próximo ão

Me perguntei por que eu gosto tanto dela e a resposta que obtive pode não parecer convincente para a maioria.
Sem mesmo que eu possa pra ela eu tenho que sorrir.
Ela me diverte com trejeitos ínfimos.
Quando pega o cabelo e coloca a ponta sobre os lábios fazendo de bigode, quando quase espirra e fica com raiva por eu colocar o dedo próximo ao seu nariz e principalmente quando faz coisas com aquele jeitinho de menina.

Meio Alice in wonderland...

Menina que cheira mais que a flor que ela mesma despreza, mas que atrai tantas mulheres e a faz tão especial por sua beleza.
Beleza clássica que não se vê em qualquer lugar e por isso chama tanto a minha atenção. Odiaria ter um espelho na minha frente sempre que a vejo, pois devo fazer a cara mais idiota do mundo.
No famoso livro de L. Frank Baum “O mágico de Oz” Dorothy é chamada a sala do trono e recebe a noticia:

-Sente-se minha querida. Acho que encontrei um meio de tirá-la desse país.
-E me fazer voltar ao Kansas? (ela perguntou ansiosa)
-Bem, sobre o Kansas não tenho muita certeza, pois não faço a menor idéia pra que lado fica.

Assim como Oz não sei onde esse sentimento pode me levar, mas sei que por ela estou disposto a descobrir. Por que nesse exato momento seu cheiro esta impregnado em mim e quando deito a cabeça no travesseiro só um rosto, um beijo e uma risada me vem a cabeça.
Por que por ela mudo meus costumes e prometo coisas que não prometeria a mais ninguém. Assim como o Romeu de Shakespeare que jurou a Julieta não pela lua, que é inconstante em todas as suas fases, e sim pela própria generosidade e pelo seu sentimento por ela que acreditava: sempre perduraria ao longo dos tempos.
Sou meio brigão sim e não sou muito tolerante em relação a certos tipos de situação sim, entretanto é incrível como algumas palavras de alguém com menos de 50 kg simplesmente me desmontam e podem me deixar no chão.
Não deveria ser assim, mas confesso que perdi o controle da situação e tenho algo a declarar: Estou embriagado (Sim estou embriagado!) por ela e não tenho controle sobre minhas ações.
Não posso desferir um soco, um murro, um gancho...
Já tenho meus sentidos voltados pra ela: do olfato a visão, mas sinceramente quero que escolha mesmo o que rima com o próximo ão.

Entre drinks

No bar da boate...

-Olá
-Olá
-O que é isso que você esta bebendo?
-Sex on the beach. Por que?
-Porque eu vou pedir um Lagoa Azul e vou te chamar pra nadar pelada...
-¬¬ Ta senta lá...

Zé Alguém (Parte 2)

Com a estranha ligação na cabeça José dirigiu a sua moto até o principal bar da pequena cidade.
Entrou e sentou-se na última mesa do local pedindo mais uma cerveja para a garçonete enquanto dava uma espiada nos tipos de caipira que habitavam no local.
Um senhor careca, daqueles que tem um resquício de cabelo em cada lado da cabeça, jogava sinuca com um jovem apostando a cerveja que estava à espera na ponta da mesa, uma bela moça de vestido beijava o namorado de forma quente na outra extremidade enquanto um rapaz moreno de cabelo enrolado tocava algumas músicas acompanhado por um violão no palco.
José não pode deixar de notar que o músico olhava para uma moça magra de cabelos longos que estava sentada numa mesa próxima ao palco com uma amiga e seu acompanhante.
Já estava na quarta garrafa de cerveja quando a mulher de cabelos longos sentou-se no bar sozinha. Levantou e foi falar com ela.

-Olá
-Olá
-Desculpe, mas não pude deixar de notar que você se afastou da mesa em que sua amiga esta
-Ela parece estar meio ocupada com o namorado dela... Se é que você me entende...
-Uhun. E o músico que esta no palco e te olha de um jeito tão diferente
-É uma história meio complicada
-Eu também tenho uma... Quer conversar?

Durante à hora seguinte José soube um pouco da história da moça e do cantor do bar. Ela ia se casar daqui a alguns meses, mas continuava sentindo algo pelo rapaz do palco que dizia que sempre a amaria.
A moça disse que ele era estranho: que a amava num dia, e isso transbordava dele, enquanto no outro não conseguia olha-lá nos olhos.
Saiu do bar depois de ter contado a sua história para a garota lá pelas uma da manhã. Não se importou com a pequena embriaguez, já que estava sem nenhum sono, e pegou a estrada de novo.
Pensou no quanto devia ser difícil a situação do músico que via a mulher que mais amava indo embora e o relacionamento com ela se deteriorando aos poucos pelas constantes variações de humor.
Talvez um dia ele simplesmente não fosse mais a ver e ela continuaria rondando os seus pensamentos... Talvez pudesse ser pior, talvez eles se vissem um dia e um fingiria que não conhecia o outro. Só o que denunciaria seria o coração disparado do rapaz quando sentisse o cheiro da moça...

Que fardo!

Deu graças por ter a sua moto, uma estrada e uma mulher que o amava. Três coisas que até então nunca tinham o decepcionado.
Talvez esse fosse um bom motivo para ama-lá. Ela gostava o suficiente dele para dizer isso então...
A madrugada na estrada era ótima. Vazia, e só ele parecia estar lá vendo os postes passarem um a um com as suas luzes ofuscantes.
Fechou os olhos durante dois segundos para sentir o vento frio da estrada quando a moto derrapa e ele cai ficando desacordado.

Três horas depois José acorda

Retomou a consciência e percebeu o que tinha acontecido. Primeiro mexeu as pernas, depois os braços, sempre com medo de que os seus membros não respondessem, mas seu temor acabou não fazendo sentido.
Levantou e percebeu-se bem. Um pouco dolorido, mas bem e começou a dançar.
Sim, como nos filmes em que o mocinho se da bem e uma música animada começa a tocar ele começou a dançar no canto da estrada do lado de sua Harley jogada sobre um alto gramado quando um carro passou e um senhor o olhou.
Sentiu-se ridículo... Não devia ter feito aquilo.
Levantou a moto e pensou em pra onde ir agora e só uma resposta veio a cabeça: para a minha casa e para minha mulher.
Tinha descoberto um sentido, uma resposta: Em cada quilometro rodado, no papo com a moça do bar, na tristeza do músico apaixonado, na sua queda e em sua quase morte...
Agora ele podia olhar a própria esposa nos lhos e dizer: Eu te amo.

“Foi como ver o sol... Nada que aconteça irá abalar a energia que deixou pra trás. Nada irá abalar. Nada irá.”

Cyius – Dois Sóis



Los Hermanos - Sentimental

Auto-sabotagem

No telefone...

-Oi
-Oi
-Esta certo de sairmos amanhã?
-Sim.
-Mas e no dia seguinte você não vai ter nada na faculdade?
-É verdade. Tenho que apresentar um trabalho.
-Então é melhor você estudar pra ele né?
-É.
-Nossa. O que eu acabei de fazer...
-O que?
-Acabei de dizer pra garota que eu gosto que ela deve estudar e não sair comigo.
-Risos
-Eu estava esperando por isso a tanto tempo... aff

Zé Alguém

José era analista contábil a mais de dez anos e isso nunca o incomodou.
Gostava de trabalhar com números e eles nunca o traíram. Matemática é uma ciência exata e não da margem a muitas opções: ou é isso ou não é.
A empresa onde trabalhava valorizava isso e lhe deu um cargo, com um bom salário, uma sala espaçosa e uma poltrona reclinável que ajudava com as suas constantes dores de cabeça.
Sempre que iniciava o expediente sentava na poltrona e jogava o corpo para trás pensando em coisas que importavam: o trabalho, sua casa, seu cachorro e a sua noiva que tinha ganhado a alcunha no dia anterior.
Perguntou a si mesmo por que gostava dela e não obteve uma resposta de seu subconsciente.

Mais que droga. ele nem podia dizer a si mesmo que a amava!

Levantou-se dizendo que as dores de cabeça estavam insuportáveis e requereu dispensa junto ao superior. Seu pedido foi atendido prontamente, devido ao seu histórico de bom funcionário que raramente ficava doente, e lhe foram concedidos três dias de descanso.
Foi para o estacionamento, ligou à moto Harley-Davidson e enquanto ia para casa começou a imaginar como seria a vida daqui a algum tempo. A moto não seria mais o seu veiculo de transporte principal. Se tinha uma coisa que a sua garota... namorada... noiva... Mulher não gostava era de sua moto.
Ela sempre dizia: José essa coisa foi feita para cair. Largue essa moto e veja a lei da gravidade agir... Só tem duas rodas!
Ele é claro fazia a velha piada: deixando-a no descanso, dizia que gostava de desafiar as leis da gravidade e lhe dava um abraço.
Estacionou a moto na garagem de casa, pegou um café e sentou em frente a TV.
A reportagem do dia falava sobre os inúmeros pontos turísticos que haviam na estrada que liga o seu estado ao vizinho.
Era um sinal. Não pensou duas vezes e ligou para sua noiva.

-Como assim vai viajar!? Pra onde?!
-Só quero aproveitar que não trabalharei nos próximos dias
-Aproveite comigo?!
-Você não entende. Eu só quero aproveitar alguns dias com a minha moto
-Sua moto?! E ainda por cima vai correr risco de vida?!
-Eu te ligarei todo dia... Tchau
-Não ouse desligar na minha c...

tu tu tu tu

Colocou a mochila nas costas logo pela manhã, pegou algum dinheiro no banco, encheu o tanque no posto de costume e começou a dirigir pela estrada.
O asfalto serpenteava até onde a vista podia alcançar e José conseguia ver no horizonte os caminhões que pareciam entrar dentro do sol que estava nascendo.

O calor deve estar forte por lá...

Era engraçado notar como em cada posto os caminhoneiros iam se levantando dos lugares mais improváveis possíveis para voltar a dirigir. Um saiu de baixo do veiculo, outro se recostava junto à carga de galinhas enquanto um terceiro acordava dando dinheiro para uma prostituta tão gorda que podia facilmente comer toda a sua carga de chocolate em poucos dias.
Fez três paradas naquele dia. Duas para comer, almoço e janta, e outra para visitar uma cidadezinha interiorana de onde ligou do celular enquanto tomava uma cerveja.

Tuuu tuuu tuuu

-Alô
-...
-José é você?
-...
-Me responda. Eu sei que é você.

tu tu tu tu

José não sabia por que simplesmente não tinha respondido, queria dizer uma palavra a mais que fosse mudar o que a distancia faz, mas... Nada... Só nada...


(Continua)
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