Boa noite




Sentado na sua prancha Juan olhava o mar.
De olhos fechados e de frente para o horizonte ele podia ouvir o som que o água fazia batendo contra as pedras na parte perigosa da praia onde as ondas quebravam de forma assustadora.
Julgou-se amaldiçoado e abençoado por estar num local tão bonito, mas que parecia tão melancólico.
Virou-se para a parte pedregosa, sentiu as gotas da água salgada no rosto e esfregou os olhos indo então, a largas braçadas, na direção da próxima onda.
Ela veio e ele nadou até ficar em pé.
Era o único momento em que Juan conseguia estar só com ele mesmo sem a intromissão inoportuna dos seus pensamentos. Não havia mais nada além dele e o mar, nada mais entre ele e o céu, nada mais entre ele e ele mesmo.
O grande problema era que até mesmo a onda impunha uma condição cruel a Juan logo após os seus momentos juntos: à volta a realidade quando ambos chegavam a areia.
Fincou a prancha, daquele jeito que só os experientes surfistas conseguem fazer, e se sentou ao lado da companheira para tomar uma cerveja.
Tinha o pensamento distante e a vida complicada pela própria ilusão. Jogou um vago olhar para a montanha, ao seu lado esquerdo, e viu os carros voltando para a cidade como que dizendo: Final de tarde... Hora de voltar à realidade.
Devolveu a prancha alugada ao hippie, com nome de Beatle, Harrison, tomou um banho gelado para tirar o sal do corpo e depois de terminar mais uma cerveja, colocar uma bermuda e uma camisa ligou a moto para ir embora.
Acelerou, subiu e desceu o relevo antes de cair numa pequena estradinha que levava a avenida principal.
Sentiu o cheiro de gasolina e de pneu queimado típicos dos carros, mas não se importou por que os seus pensamentos mostravam um único odor.
Guardado em sua mente deixava uma torpe alegria figurar no rosto que era seguido pela aflição e agonia que o abatiam sempre que dirigia.
Gostava da estrada por que ela lhe trazia boas lembranças que variavam entre sorrisos e as bobeiras inventadas para vê-la até a inivitavel verdade ocorrer.
Acelerou um pouco mais e foi cortando os carros até chegar em casa numa cidade do subúrbio para mais uma noite. Mais uma noite com um computador e livros do amigo de Marx: Friedrich Engels...

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