SOS




Às vezes custo a acreditar no tipo de situações em que só eu sei me envolver.
No último fim de semana tive que trabalhar e não foi algo muito fácil. Viajei no sábado à tarde e a volta estava programada apenas para o domingo de noite.
Chegamos à pousada lá pelas 22 horas e logo todos foram acomodados em duplas nos seus respectivos quartos enquanto eu, como de praxe, fui ler um livro na sacada.
O relógio marcava uma hora quando o motorista do ônibus, que era o meu companheiro de quarto, não se aguentou e começou a puxar conversar comigo não me deixando continuar a leitura.

Aff

Desisti e fui levando o papo, aos poucos, para o final com frases mais curtas até que consegui dormir lá pelas três.
A manhã seguinte não parecia mais agitada do que a minha noite de sábado, pois eu só iria trabalhar a partir das 14 horas então, depois de tomar o café e ler mais um capitulo do livro, resolvi fazer algo inédito para mim depois de anos: praticar um exercício físico.
Coloquei meu All Star, pus umaa camiseta no ombro, de modo que esconde-se a tatuagem nas minhas costas, apertei o play no mp3 e forcei-me a uma leve corrida para conhecer a cidade.
A praia não é muito diferente de todas as outras em que já estive, mas mesmo assim é muito bonita, tem uma lado onde um monte de grandes pedras se amontoam fazendo com que muitos pescadores fiquem por ali.
Um deles me disse inclusive que uma das etapas do campeonato mundial de surf desse ano tinha acontecido a poucos quilômetros do local.
Dei um mergulho no mar e depois decidi ir para a parte mais “urbana” da cidade que mesmo assim era muito ligada a natureza.
Passei por uma ponte, exclusiva para pedrestes, notei uma lan house que tinha a logomarca do Foo Fighters na fachada e após contornar uma banca de jornal vi uma pista de skate das boas.

Sempre quis saber andar de skate

Sentada no alto da rampa uma garota balançava as pernas enquanto mantinha o olhar fixo nelas.
Decidi ir lá puxar papo.

O máximo que pode acontecer é ela não me dar muita atenção

O nome da tal garota era Samara e tinha 20 anos. Fiz uma piada ridícula colocando o filme “O Chamado” no meio e ela, incrivelmente, conseguiu rir.

-Deve ser bom morar aqui.
-Sei lá. Depende.
-Depende de que?
-Você gostou daqui?
-É perto da praia, é um lugar muito bonito, tem pista de skate...
-Isso. É legal pra você que não esta acostumado...

Samara me disse que depois de vinte anos o lugar se tornava chato. Ela andava de skate todo dia, surfava todo dia, via aquela cena clássica do passaro sobrevoando o mar e pegando o peixe todo dia.
Para ela era normal, na verdade era... Monótono.

-E o que você esta ouvindo nesse mp3?
-Antes de parar... O disco novo do Pearl Jam.
-Legal posso ouvir...
-Claro.

Era a última musica do álbum Backspacer e a seguinte era Message in a bottle do The Police

-Você sabe sabe falar inglês?
-Não.
-Essa letra tem tudo a ver com você.

Depois de mais de 40 minutos conversando tive que voltar a pousada para almoçar e me preparar para trabalhar. Expliquei a situação e me despedi.

-Então vou indo nessa.
-Tá bom.
-Tchau legal conhec...
-Espera me diz uma coisa?
-Fala.
-Tipo, achei que você ia dar em cima de mim e nem tentou nada...

Risos

-É... Acho que sou um cara meio diferente.
-Você é gay?
-Não. Só não costumo dar em cima assim do nada. Acho que nem saberia.

Risos

-Valeu então. Bom trabalho e se aparecer de novo por aqui me liga.

Disse ela me dando o número do próprio celular


“Seems I'm not alone at being alone
Hundred billion castaways, looking for a home”

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