
Tamára era uma daquelas garotas que adorava musica.
Gostava tanto que não eram raros os momentos em que ela se pegava cantarolando alto, uma mais agitada, ou balançando a sua cabeça com movimentos bruscos demais, mas quem podia recriminar um garota de seis anos.
Não costumava prestar muita atenção ao que acontecia a sua volta, quando retornava da escola, a não ser no intervalo entre as musicas de seu mp3. E foi entre O velho e o moço dos Los Hermanos e 11 AM do Incubus que ela notou uma folha, meio amarelada, na esquina de casa que chamou mais atenção do que a musica seguinte.
Lia-se nas extremidades superiores de cada lado: Karl Marx – O Capital.
Tamára não resistiu e logo que chegou em casa se sentou para ler a tal página que marcava os números 157 e 158 do livro.
Acreditava em coincidências, nada acontece por acaso (MAKTUB), então começou a colocar em prática aquilo que tinha lido. Juntou meia dúzia de amigos e depois de pedir para que cada um fizesse a dobra de um aviãozinho de papel fez a proposta:
-Agora quem quer jogar o aviãozinho?
-Eu
-Eu
-Eu...
-Certo quem quiser jogar terá que me pagar dois reais.
Riso geral
-Como não. Se vocês não me pagarem estarão desprezando a própria força de trabalho empregada nesse objeto, ou seja, não pagando nada vocês estão dizendo que não servem para nada.
Os garotos se assustaram com a possibilidade da própria inutilidade estar tão próxima e pagaram
Depois de um mês Tamára tinha um quarto abarrotado dos mais variados tipos de chocolate e uma coleção de cd’s consideravelmente grande.
Os vizinhos começaram a indagar e a pressionar os filhos até saber como a mesada daquele mês havia acabado tão rápido. Por fim chegaram a uma conclusão e descobriram a traquinagem da menina.
Contar a mãe da pequena capitalista foi à primeira atitude
-Tamára os vizinhos estão reclamando dizendo que você esta levando o dinheiro dos filhos deles.
-É um negocio justo mãe.
-Um avião de papel por dois reais não é justo Tamára!
-Mãe o nome disso é mais-valia.
A mãe formada em sociologia ficou impressionada. Como ela sabia daquilo?
-Como você sabe disso garota?!
Foi ai que ela descobriu a tal página.
Nela Karl Marx explicava justamente como o trabalho empregado em algum objeto eleva o lucro do capitalista pelo valor da força colocada na confecção do produto.
-Filha se você tivesse lido o resto do livro perceberia que isso só gera desigualdade.
-Como assim?
-Você ganhará mais, porém as custas de que? Uma sociedade igualitária só se faz com razão e o abismo social que você vai causar definitivamente não é uma boa saída.
-Não vou deixar de ganhar os meus chocolates!
-Ok. Não posso obrigar a maior potência do mundo a ver isso, mas a você sim. Devolve se não vai levar uma chinelada!
-Não!
Crack ploft paft
-Tá bom eu devolvo... Já entendi!!!
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