Homem de Chapéu Preto

O homem do chapéu preto andava pela rua despretensiosamente.
Tinha o adorno na cabeça como objeto pelo qual as pessoas o identificavam e logo atraia olhares ávidos por sua maleta onde levava alguns livros para vender.
Trazia numa mão o recipiente com os livros e na outra um pequeno catalogo com os Best Sellers da semana a serem vendidos.
Gostava de conversar e discutir sobre os personagens do último livro vendido com cada cliente ganhando sempre sorrisos e olhares, simpáticos e convidativos, apesar da aparência estranha.
O homem de chapéu preto era alto, magro e de certa forma parecia mais um poste com pernas e um chapéu do que um homem.
Nem precisou bater a porta da primeira cliente, pois ela já o esperava ávida por uma boa prosa com o homem de chapéu preto.

-Olá
-Olá... Aguardava o senhor.
-Que bom. Gostou do último livro?
-Não sei dizer...
-Como assim?

A moça dizia-se cansada de contos de fadas com seus finais felizes e seus bons moços.

-Pode parecer estranho, mas canso dos bonzinhos
-Isso é normal minha cara
-Mas e o príncipe no cavalo branco? As mulheres não deveriam querer isso?


O homem do chapéu preto explicou-lhe que o ser humano deseja o melhor, o mais atencioso, aquele que faz tudo por você, porém de que lhe serve, com o tempo, alguém tão esforçado?
A emoção de perder a qualquer momento e a pouca, mas intensa presença é mais atraente... Concordou a mulher.
Exato replicou o homem do chapéu preto.

-Será que gostarei mais desse?
-Sem duvida que sim. Me conte semana que vem.
-Ok


Os dois se abraçaram e a moça quase derruba o chapéu do homem que o segura com a destreza de quem utiliza o objeto a muito tempo.

-Desculpe quase derrubei seu chapéu
-Tudo bem. Até semana que vem.
-Até.


Andou até a calçada e olhou as casas que ainda iria visitar na rua. Todas tinham algum morador que o espreitava a espera de sua visita.
A fantasia parecia tão próxima dos clientes do homem de chapéu preto que as vezes isso o assustava.
Lembrou-se das palavras da moça da última casa: “A emoção de perder a qualquer momento e a pouca mais intensa presença é mais atraente...”
Quantos mais prefeririam a inconstância da dúvida à certeza do carinho?
Até onde o homem de chapéu preto sabia a maioria.
Que droga... Ele até era um desses...

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