Instâncias

Meu país foi separado.
Cada instância tinha uma única prerrogativa para existir: seus residentes terem os mesmos gostos.
Decretada a nova ordem as pessoas corriam, como baratas tontas, aglomerando-se onde achavam que poderiam encontrar seus iguais. Pares que tivessem mais do que ser um ser humano em comum.
Nas estradas lotadas a instancia do engarrafamento foi inevitável, perto da lotérica os que aspiravam ao prêmio da Megasena formaram o grupo dos sonhadores enquanto nas praias surfistas se amontoavam.
Numa passeata por dentaduras o grupo dos felizes encontrou com o dos tristes, que protestavam contra a grande quantidade de emos que vinha chegando a instancia, e houve uma grande briga fazendo com que todos fossem para a instância da violência.
Lá uma grande guerra acontecia pela independência de certas partes de instâncias como a dos traficantes, assaltantes e terroristas... O lema era “A violência tem varias caras. Não queremos só uma!”.
No sul um massacre aconteceu quando a instância dos pagodeiros lutou contra a dos roqueiros, já que ambos tinham como armas apenas guitarras contra cavaquinhos.
Não sobrou pagode sobre pagode.
Apesar da divisão das instâncias o futuro de cada uma era muito óbvio: a divisão.
Cada vez mais constantes as divisões, motivadas por rivalidades internas, eclodiam em cada instância.
Mesmo sendo mais iguais que opostas às pequenas diferenças iam se acentuando de tal forma que os pedidos de independência de algumas minorias aconteciam sucessivamente.
As separações acabaram se tornando tão constantes que logo nasceram as instâncias de uma pessoa só.
Por que ninguém era tão igual a ponto de ser exatamente igual.
Ninguém era tão igual a ponto de não ter diferenças que com o tempo se tornassem mais evidentes.
Ninguém era mais igual.
Talvez ninguém nunca tivesse sido igual.
Talvez um dia eles acabassem se tornando ninguém se não se unissem como um todo.
Se não se tornassem um país que entendesse as diferenças ao invés de se separar por minorias.

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