O rato e a cientista













A cientista estava sentada em frente à lareira com um copo de vinho numa das mãos. Enquanto girava vagarosamente o liquido, dentro do recipiente de vidro, resolveu subir repentinamente para o sótão da casa.
Entrou e acendeu a luz do laboratório que não visitava fazia meses.
Tudo ainda estava no mesmo lugar e no canto do cômodo dentro de uma jaula o rato se pôs de pé logo estampando um sorriso no focinho.

-O que você esta fazendo?
-Vim visitá-lo pela última vez
-Por que?
-Não farei mais experiências aqui com você
-Por que!?
-Conheci um cara no trabalho e vou sair com ele, não tenho mais tempo para ratos... Adeus...

A cientista sai e deixa o rato vê-la dando as costas. O bichano logo se senta e depois de algum tempo abre a própria jaula, como a cientista nunca soube que ele fazia, pega uma boa quantidade de ração e se trancafia de novo.
Tinha criado com o tempo um amor incondicional e inexplicável por aquela que lhe dava drogas estranhas e fazia bizarras experiências.
Meses se passaram até o dia em que o rato estava deitado, em mais uma hora de puro ócio pensado na cientista, quando ele ouve passos na escada.
Não se iludiu: Provavelmente a cientista deveria ter comprado um gato que estava descendo as escadas para dar parte, de uma vez por todas, a sua vida quando a luz se acendeu.
Era ela: a cientista.
Abriu a porta e deu aquele sorriso que só ela sabia dar... Um em que balançava levemente a cabeça e a posicionava meio de lado deixando assim a maior parte do seu rosto a mostra, já que a outra era meio encoberta pelo cabelo jogado normalmente para um único lado que tinha um cacho maior que os outros.
Pegou o rato pela pata segurou em sua cintura e disse que sentia saudades...
O rato se abriu e disse que passaria a vida inteira correndo na roda que havia em sua jaula só para ver um sorriso no rosto da cientista. Estava disposto a perder todo o seu pêlo em experiências e ter problemas de saúde sérios só para vê-la todo dia.

-O que você quer é isso? (perguntou o rato)
-Eu não sei o que quero...

O rato respirou fundo e disparou para a cientista: Não quero que você se sinta mal e faria qualquer coisa para vê-la feliz, mas você que tem que decidir e estou disposto a aceitar essa decisão seja ela a meu favor ou não. A minha felicidade é saber que você esta bem fazendo o que você gosta com quem você ama.

-Acho que dei remédios demais pra você
-Por que?
-Você é gentil demais para um rato...(risos)
-(risos) Eu só quero que você seja feliz, seja nesse laboratório ou seja lá fora no mundo real, mas pense e se você quiser eu estarei sempre aqui esperando por você passe o tempo que passar

O rato e a cientista conversaram por um longo tempo até que ela foi embora desejando um bom final de semana para o roedor e mostrando a ele um botão em sua jaula onde ele sempre poderia apertar para saber se ela estava bem.
Os dias que se passaram foram lentos e o rato apertava todos os dias o botão sendo sempre correspondido pela cientista, que o respondia logo depois, até que quando a semana voltou ao seu inicio ela não apareceu.
O rato enlouqueceu.
Apertava o botão freneticamente e ninguém o respondia... Saiu da sua Jaula e fez algo que nunca tinha feito em toda a sua vida: saiu do sótão. Destrancou a jaula, desceu as escadas e passou por baixo da porta trancada até chegar no meio da sala da cientista.
Procurou em cada cômodo, mas não a achou. Finalmente chegou ao quarto, que era o último que faltava, passou pela porta e não viu ninguém.
Sentiu o cheiro característico da cientista e resolveu subir na cama quando viu uma serie de fotos jogadas sobre o criado mudo. Eram as fotos do final de semana da cientista que a mostrava de mãos dadas e sorrindo ao lado do colega de trabalho...

No dia seguinte...

-Olá rato! Rato?
-Olá
-Esta triste...
-Vi suas fotos no criado mudo...
-Você não deveria ter ido lá...
-Desculpe
-Não se desculpe
-ok
-Sò quero que saiba que fiz minha decisão. Não me culpe por isso...
-Não estou. Vá e seja feliz... Só me deixe aqui com o maior número de remédios possíveis
-Se é isso que você quer...
-No momento é a única coisa que posso querer, não tenho quem mais amo por que ela ama outro alguém e o pior é que posso aceitar isso, mas vendo você não sei se conseguirei, pois chegará um dia em que não vou aguentar e não poderei me responsabilizar por qualquer besteira que eu fizer. O fato é que queria que a sua escolha tivesse sido outra.
-Não sei o que dizer...
-Não diga só seja muito feliz, deixe os remédios e apague a luz por favor.

1 comentários:

Felipe Attie | 4 de março de 2010 às 07:19

O melhor texto que vc já escreveu!

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